Fraudes lideradas por servidores e um ‘secretário informal’ revelam como o dinheiro público foi desviado com promessas, coação e até comissões, enquanto Campo Grande paga a conta da corrupção.
Imagine o seguinte cenário: um esquema criminoso, capitaneado por servidores públicos municipais, onde adulterações nas margens de consignados de outros servidores geraram um rombo de mais de R$ 20 milhões nos cofres públicos. E o pior? O principal operador dessa farsa, o “Sr. Ítalo”, que atuou como chefe do setor de consignados na prefeitura sem nunca ter sido nomeado para tal função, continua impune e ainda foi premiado com um cargo no Gabinete da Prefeita – desta vez, sim, nomeado – como recompensa pelo “trabalho” na Seges.
Vale lembrar, mais uma vez, que ele atuou sem a devida nomeação. Então, caros leitores, bem-vindos à novela tragicômica que expõe, mais uma vez, como o contribuinte campo-grandense paga a conta da corrupção na gestão dos Lopes.
Como funcionava o golpe?
Durante mais de um ano, cinco servidores da prefeitura transformaram o setor de consignados em um verdadeiro balcão de negócios sujos. Eis os números do escárnio:
Uma servidora contratada, de codinome “A”, liderou o ranking da vergonha com 207 adulterações, podendo ter gerado um prejuízo superior a R$ 5 milhões aos cofres municipais.
- Uma ex-secretária de Gestão, nada recatada, contribuiu com mais 117 adulterações fraudulentas no sistema de consignados.
- Uma servidora concursada, talvez menos ambiciosa, cometeu 33 adulterações fraudulentas da margem dos consignados de seus colegas.
- A servidora efetiva, que é chefe e responsável pela folha de pagamentos da Seges, que deveria dar exemplo, carimbou 16 adulterações, curiosamente as de valores mais altos.

Tudo isso sob os “cuidadosos” olhares do Sr. Ítalo, apresentado em 2022, como responsável e chefe do setor de consignados pela ex-secretária de Gestão mencionada anteriormente. Dizem que Ítalo chegou lá por intermédio de um deputado estadual, por ser seu homem de confiança. Detalhe: ele nunca foi oficialmente nomeado.
Com uma cara de pau digna de um Oscar, montou sua própria sala na prefeitura, modelando-a conforme seu gosto pessoal, e começou a operar o esquema. É fato que para agir dessa forma, ele precisaria contar com um respaldo muito grande da cúpula da prefeitura – seja da prefeita ou de seu marido, já que os secretários mais próximos da alcaide não ousam contestar, por dependência ou medo.
A servidora de codinome “A” e o bônus do caos
Segundo informações obtidas pelo Regional Notícia, a servidora “A”, líder do ranking de fraudes, não era apenas uma “operadora inocente”. Ela recebia uma comissão por suas “habilidades em conhecer muito bem e operar o sistema dos consignados”.
Em conversa com Ítalo, a senhorita “A” fez questão de lembrar ao chefe informal do esquema uma velada cobrança: “Não esqueça de mim, hein! Tenho uma filha e preciso pagar a escola dela.” Se a fala já soa trágica, o contexto é ainda mais sombrio – parece até um roteiro de filme de Hollywood, mas com uma pegada de “Bonnie e Clyde” tupiniquim.
A promessa: blindagem política e dinheiro fácil. O custo: o futuro de Campo Grande.
O modus operandi era quase cinematográfico. Ítalo assediava servidores com promessas de aumentar suas margens consignadas. A condição? Após a liberação do empréstimo, o servidor deveria transferir via PIX 30% do valor obtido para uma conta indicada por Ítalo.
Para blindar o esquema, os servidores eram instruídos a acionar a Justiça, alegando que o desconto ultrapassava o limite legal de 30% do salário. O resultado? A prefeitura era obrigada a arcar com o restante do prejuízo.
A fatura chega para quem?
No final das contas, quem pagou por essa “brincadeira” foram os cidadãos de Campo Grande. Enquanto a cidade enfrentava problemas como falta de remédios nos postos de saúde, transporte público precário e creches lotadas, os cofres públicos eram saqueados por um esquema orquestrado com precisão, porém com uma finalidade escusa, com tendência a ser caixa 2 de campanha para deputado.
E a justiça, onde está?
Apesar da abertura de uma sindicância (Proc. Nº 59121/2023-82) e de um inquérito policial (Inquérito Nº 104/24), o desfecho parece mais um episódio de impunidade. A única baixa foi a ex-secretária Gracinha (que ajudou e sabe quem participou, e principalmente quem foi o maior beneficiário do esquema), afastada após o escândalo vir à tona.
Para completar a indignação, Ítalo, o cérebro do esquema, foi nomeado para o Gabinete da Prefeita depois que tudo foi exposto. É o típico caso em que o criminoso, em vez de ser punido, é promovido – ou melhor, protegido.
A quem interessa o silêncio?
Campo Grande precisa de respostas. Quem autorizou esse esquema? Um mero secretário não teria esse poder, porque não é dele a última palavra. Por que Ítalo, mesmo sem nomeação, teve carta branca para operar livremente? Só alguém com muito poder para bancar isso, e, parece óbvio – tem que ser alguém com o poder da caneta ou que tenha grande influência sobre quem detém a caneta.
Por que nada foi feito até agora para reaver os milhões desviados? Com a palavra os órgãos de controle. Enquanto isso, o contribuinte continua assistindo de camarote ao espetáculo da impunidade.
A pergunta que não quer calar: até quando os contribuintes vão financiar essa farra?
(Imagem: Divulgação / Por: Fábio Sniper)