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Paradoxo da equidade: Mulheres revolucionaram a ciência, mas seguem na luta por reconhecimento

por editor
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Minoria nas áreas exatas, mulheres enfrentam barreiras diárias para ocupar espaços historicamente dominados por homens.

Em meados do século XIX, uma mulher desafiou as convenções de seu tempo e criou o que, mais tarde, se tornaria as bases para a computação moderna. Matemática e poetisa, Ada Lovelace escreveu o primeiro algoritmo processado por uma máquina, o que antecedeu conceitos da programação mesmo antes da invenção dos computadores.

Contudo, em um universo que historicamente privilegia homens, inúmeras pesquisadoras foram ignoradas, tiveram seus trabalhos atribuídos a homens e/ou enfrentaram barreiras que impediram seu devido reconhecimento.

Anos após a descoberta dessas pesquisadoras, a luta pela visibilidade das mulheres na ciência continua. Embora avanços significativos tenham sido conquistados, o reconhecimento pleno de seu impacto ainda segue como um desafio.

O desafio da equidade

A desigualdade de gênero na pesquisa científica é um problema social no Brasil. Segundo dados do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), as mulheres representam cerca de 54% dos pesquisadores brasileiros. No entanto, a presença em cargos de liderança e em áreas como engenharia, tecnologia e exatas ainda é reduzida.

Mulheres sobrecarga
Mulheres sofrem sobrecarga ainda maior (Madu Livramento, Midiamax)

Em paralelo, o setor de ciência e tecnologia – em especial nas áreas de computação, análise de dados e inteligência artificial – tem experimentado uma expansão acelerada no Brasil, enquanto a participação feminina nesses campos continua aquém do ideal. De acordo com as Estatísticas de Gênero do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a porcentagem de mulheres concluintes nos cursos CTEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) já era reduzida e apresentou um ligeiro recuo ao longo dos últimos anos, caindo de 23,2% em 2012 para 22% em 2022.

Nesse contexto, a dificuldade de conciliar carreira acadêmica, vida pessoal, profissional e, em muitos casos, a maternidade, aliada ao preconceito estrutural e à falta de incentivos específicos, torna o caminho das mulheres ainda mais desafiador.

Maioria nas universidades…

Em Mato Grosso do Sul, o cenário segue a tendência nacional, com as mulheres sendo maioria nas universidades. No entanto, ao analisar a distribuição de gênero por área do conhecimento, a presença feminina ainda é significativamente menor em cursos voltados para ciência e tecnologia.

Na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), maior universidade do Estado, dados do painel ‘UFMS em Números’ indicam que, no primeiro semestre de 2024, havia 16.243 mulheres matriculadas, em comparação com 13.260 homens. Isso representa 55% de alunas e 45% de alunos. Apesar disso, em 2024, a UFMS elegeu a 2ª reitora mulher em mais de 45 anos de instituição, a professora Camila Ítavo.

Já na UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), o mesmo período contabilizou 4.861 mulheres matriculadas e 2.999 homens, o que corresponde a uma participação feminina de 61,8%. Vale destacar que a identificação do gênero é feita pelo próprio aluno no ato da matrícula.

No âmbito profissional, a análise do panorama da participação das mulheres no setor de tecnologia no Brasil, conduzida pela Serasa Experian, revela que a presença feminina é extremamente reduzida, e representa apenas 0,07% do total de profissionais da área, cerca de 69,8 mil profissionais. O levantamento analisou mais de 93,3 milhões de pessoas do gênero feminino. Em comparação ao público masculino, 0,33% trabalham na área de TI, conforme levantamento feito com 92,4 milhões de homens no país.

O cenário atual reflete uma estrutura social que, historicamente, atribuiu papéis de gênero às mulheres. Mesmo após conquistarem o direito à educação, mulheres foram incentivadas a seguir carreiras relacionadas ao cuidado, como educação e saúde — um padrão que ainda se manifesta nas salas de aula brasileiras.

…Mas minoria nas exatas

Na UFMS, essa disparidade fica evidente nos cursos de ciência e tecnologia. Engenharia de Computação, por exemplo, tem a menor participação feminina, com apenas 14,16% das matrículas, o que equivale a uma estudante mulher para cada seis homens.

O mesmo padrão se repete em outros cursos, como Ciência da Computação que também apresenta um dos menores índices de alunas, com 15%, Sistema de Informações (18%), Física (19%), Economia (29%) e Tecnologia em Ciência de Dados (30%).

Em contraponto, as mulheres são ampla maioria em áreas tradicionalmente associadas ao cuidado, como Pedagogia (86%), Nutrição (82%), Enfermagem (79%) e Fisioterapia (77%).


Elas Programando: Rede de apoio impulsiona mulheres na computação

Na luta pela representatividade, iniciativas como o Elas Programando se destacam como ferramentas essenciais para incentivar a presença feminina na ciência. Criado em 2018 na Facom (Faculdade de Computação) da UFMS, o projeto introduz alunas à área de programação e promove o acolhimento entre estudantes e professoras, formando uma rede de apoio entre mulheres.

Doutora em Ciência da Computação, Luciana Montera, coordenadora do projeto, explica que o Elas Programando nasceu a partir da possibilidade de desenvolver projetos de ensino voltados tanto para a formação técnica quanto para o desenvolvimento humano das alunas na graduação. 

“A ideia era criar um ambiente acolhedor, onde calouras pudessem interagir com veteranas e professoras, formando uma rede de apoio que facilitasse a transição do ensino médio para a universidade”, afirma.

Alunas da Facom-UFMS
Alunas da Facom-UFMS (Arquivo pessoal)

Para Luciana, essa transição é um momento desafiador, especialmente para estudantes que precisam mudar de cidade, se afastar das amizades de longa data e reconstruir sua rede de apoio longe de casa.

“O projeto funciona como um facilitador, garante que as meninas se sintam pertencentes e motivadas a seguir na área. Não vemos a disparidade de gênero como uma barreira única a ser superada, mas sim como parte de um processo de adaptação onde o acolhimento tem um papel essencial”, explica.

A estrutura do projeto inclui encontros semanais, presenciais ou remotos, nos quais as participantes aprendem lógica de programação e desenvolvimento de aplicativos para dispositivos móveis. No segundo semestre, elas colocam em prática o conhecimento adquirido a partir da criação de um aplicativo baseado nos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável).

Além disso, nas reuniões há momentos de troca com ex-alunas da UFMS que compartilham suas trajetórias profissionais. “Essas conversas são inspiradoras e ajudam as participantes a visualizar caminhos possíveis dentro da computação”, destaca Luciana.

Inspirações

Para reforçar o sentimento de pertencimento e resgatar referências históricas, Luciana conta que o projeto sempre destaca a importância de figuras pioneiras, como Ada Lovelace.

“Resgatamos essas referências para que as meninas percebam que, desde o início da computação, as mulheres tiveram um papel fundamental. Criamos até um quiz interativo sobre mulheres na ciência para que elas conheçam mais figuras inspiradoras”, conta Luciana.

Em 2020, a pandemia de Covid-19 representou um desafio para o projeto, mas também abriu portas para inovações. Inicialmente, o Elas Programando migrou para o formato remoto, mas a experiência possibilitou a adoção de um modelo híbrido, que hoje permite a participação de alunas dos cursos EaD em Ciência de Dados e Tecnologia da Informação.

Apesar dos desafios, o olhar para o futuro é otimista. Luciana acredita que, com algumas adaptações, o Elas Programando pode virar um projeto de extensão universitária, alcançando não só estudantes da UFMS, mas também alunas do ensino médio e de outras instituições.

“A escolha de uma carreira deve ser baseada em informações confiáveis. Procurar cursos, acompanhar notícias da área e conversar com profissionais são atitudes que ajudam nesse processo. E, acima de tudo, saber que há redes de apoio como o Elas Programando, prontas para incentivar e acolher quem deseja entrar nesse universo”, conclui.

Impactos da representatividade

Reunião do Elas Programando
Reunião do Elas Programando (Arquivo pessoal)

Estudante de Engenharia de Computação, Jhullya Eduarda Soares, 21 anos, é um dos rostos dessa nova geração de pesquisadoras. Sua trajetória no Elas Programando começou em 2021, quando ingressou como aluna. No ano seguinte, tornou-se monitora e, em 2024, ministrou uma capacitação para professoras e alunas do campus de Três Lagoas, com o intuito de expandir o projeto para outras unidades da UFMS.

“Conheci o projeto na recepção de calouros, quando ainda estávamos no ensino remoto. Além de haver poucas meninas na minha turma, as aulas a distância dificultavam a interação. Como eu não tinha conhecimento nenhum em computação, enxerguei o projeto como uma oportunidade”, relata.

A adaptação ao curso foi desafiadora, mas o projeto possibilitou o suporte necessário para que Jhullya desenvolvesse o pensamento lógico e criasse vínculos de amizade fundamentais para sua permanência na graduação. Além disso, a fez descobrir uma nova paixão: o ensino.

Projeto foi apresentado no Integra UFMS
Projeto incentiva mulheres na ciência (Arquivo pessoal)

Em 2012, o corpo docente da Facom (Faculdade de Computação) contava com 13 professoras e 30 professores. Até 2024, houve um aumento de 37% no número total de docentes, passando de 13 para 18 mulheres e de 30 para 41 homens contratados. 

Contudo, a análise por gênero revela que, nesse período, considerando o total de professores, o número de homens contratados aumentou 68%, enquanto o de mulheres cresceu apenas 31%. Nesse contexto, os dados demonstram que, mesmo com a ampliação nas contratações de professoras, a participação feminina não acompanhou o mesmo ritmo de crescimento dos homens.

Futuro da ciência

Embora a desigualdade de gênero na computação ainda seja uma realidade, Jhullya acredita que a conscientização sobre a importância das mulheres na história da tecnologia é um passo essencial para mudar esse cenário.

“Durante o projeto, estudei mais sobre a participação feminina na computação ao longo dos anos, algo em que eu nunca havia parado para pensar até então. Fazemos questão de compartilhar esse conhecimento com as novas participantes para incentivá-las e mostrar como as mulheres foram fundamentais para o que a tecnologia é hoje.”

Ao mesmo tempo, ela reconhece que teve a sorte de encontrar um ambiente respeitoso em sua trajetória acadêmica e profissional. No entanto, conviveu de perto com mulheres que enfrentaram desafios simplesmente por serem minoria na área.

Jhullya Eduarda
Jhullya Eduarda em evento científico (Arquivo pessoal)

“Sou respeitada como indivíduo e como mulher, mas conheço amigas que passaram por preconceito ou dificuldades apenas por serem mulheres na computação. Ainda vejo a falta de acolhimento e incentivo como um grande obstáculo.”

Por isso, encontrar referências e exemplos de mulheres que fizeram e fazem a diferença na ciência e tecnologia e tornou algo essencial para sua jornada. Ada Lovelace e Camila Achutti, empreendedora na educação tecnológica, são algumas das figuras que a inspiram. Além delas, Jhullya destaca a importância de referências próximas, como as professoras da Facom, especialmente Luciana Montera.

“Precisamos nos unir e persistir. Projetos como o Elas Programando podem mudar o cenário se implementados em mais instituições. O futuro não se constrói sozinho. Se você se interessa pela área, saiba que há outras mulheres dispostas a te apoiar e incentivar a todo momento”, conclui.

Primeira mulher à frente do Instituto de Física

Reforma do Instituto de Física da UFMS
Reforma do Instituto de Física da UFMS (Divulgação)

Cientista que descobriu os elementos rádio e polônio, primeira mulher laureada com o Nobel e única a receber o prêmio duas vezes (em áreas distintas), Marie Curie foi a principal inspiração que despertou a paixão da Professora Doutora Doroteia Bozano pela matemática e pelas ciências exatas. Ex-diretora do Infi (Instituto de Física da UFMS), Doroteia abriu portas para que outras mulheres ocupassem espaços de liderança em áreas historicamente dominadas por homens.

Embora não tenha enfrentado situações explícitas de preconceito por ser mulher, Doroteia percebia uma desvalorização generalizada na área. Assim, por iniciativa própria, decidiu “colocar a mão na massa”, pois considerava que o Instituto de Física estava carente de uma infraestrutura adequada.

“Primeiro solicitei à Reitoria o termo de descentralização para a aquisição de equipamentos destinados aos laboratórios didáticos de física, com o objetivo de atingirmos um nível comparável ao das melhores universidades do país. Recebi total apoio e conseguimos captar cerca de R$ 1 mil para a compra de equipamentos. Além disso, investimos na reforma do espaço físico, aquisição de bancadas e cadeiras de qualidade, além da realização de concurso para a contratação de técnicos”, recorda.

Paralelamente, ocorreu uma ampla renovação do corpo docente por meio de concursos públicos. Segundo ela, os novos professores receberam incentivo dos demais docentes para submeter projetos de pesquisa com fomento interno e externo, fortalecendo a produção científica.

“Como resultado desse esforço, aprovamos o mestrado em Ciência dos Materiais, que, em apenas três anos, evoluiu para a aprovação de um doutorado na área. No mesmo período, o mestrado profissional em Ensino de Ciência transformou-se em um programa acadêmico, culminando na criação de um curso de doutorado”, explica.

Desafios

Instituto de Física
Doroteia é uma das cinco professoras do Instituto de Física (Divulgação)

No entanto, Doroteia relembra que nem tudo foi fácil em sua gestão. Durante o governo Bolsonaro, pesquisadores do Infi tinham projetos com financiamento aprovado, mas sem a liberação das verbas necessárias. Para reverter a situação, ela utilizou recursos próprios do instituto para garantir o suporte necessário às pesquisas.

“Como gestora, utilizei recursos do próprio instituto para assegurar o suporte necessário, o que hoje se reflete em um forte desempenho em pesquisa. Além disso, junto à gestão central, garanti a designação de um técnico para cada grupo de pesquisa.”

Outro marco em sua trajetória foi a criação da Casa da Ciência e Cultura de Campo Grande, criada em parceria com os professores Hamilton Corrêa e Isabela Cavalcante, também do Infi. Hoje, o local se tornou um dos principais polos de divulgação científica com ênfase em astronomia no Estado.

Mulheres representam apenas 15% do corpo docente

Apesar dos avanços, a disparidade de gênero ainda é significativa no curso de Física. Atualmente, o corpo docente do instituto conta com cinco professoras e 27 professores, o que representa aproximadamente 15% de participação feminina e 85% masculina.

No perfil dos alunos, em 2013 o curso integral de bacharelado em Física contava com 8 mulheres e 42 homens matriculados – ou seja, a representação feminina era cerca de 5 vezes inferior à masculina. Hoje, essa discrepância diminuiu, com 82 homens e 19 mulheres matriculados, o que corresponde a uma participação feminina de 18%.

“Vejo que o número de alunas no corpo discente vem aumentando ao longo dos anos, embora de forma ainda modesta em comparação com períodos anteriores”, enfatiza.

Diante desse cenário, surge a questão: o que fazer para atrair mais meninas e mulheres para cursos de ciências exatas? Para Doroteia, a solução está no investimento em projetos específicos – financiados por recursos internos e externos – que envolvam estudantes desde o ensino básico.

“A ciência e a tecnologia são campos fascinantes, e as mulheres demonstram muita competência para atuar na área. Além disso, a presença feminina em cargos de liderança é crucial para evidenciar que elas podem exercer qualquer função. Atualmente há muitas reportagens e trabalhos que destacam as mulheres importantes para a ciência, ao contrário do que ocorria na história da ciência até alguns anos atrás”.

Gênero e raça: desafios, resistência e equidade

Para além das barreiras impostas ao gênero, a presença de mulheres na ciência esbarra em problemas estruturais que atravessam questões de raça e classe social. Segundo a Unesco, apenas 33,3% das pesquisadoras no mundo são mulheres, e esse número reduz drasticamente quando considera-se a presença feminina nas academias científicas nacionais, onde ocupam apenas 12% das cadeiras. No Brasil, a desigualdade racial se evidencia ainda mais, visto que, apenas 0,4% das docentes dos programas de pós-graduação são mulheres negras.

Para a professora Dra. Cíntia Diallo, que atua na UEMS e coordena o Centro de Estudo, Pesquisa e Extensão em Educação, Gênero e Etnia, esses números refletem a realidade cotidiana de mulheres negras na academia. 

“Os desafios são impostos para todas as pessoas, mas quando se acrescentam marcas identitárias de gênero, raça e classe, eles se tornam ainda maiores. Mas, nem por isso devemos desistir”, afirma.

A trajetória de Cíntia reflete a luta por espaço em um ambiente ainda dominado por uma matriz de conhecimento eurocêntrica. Formada em História e Pedagogia, com doutorado na área e pós-doutorado em Educação, a pesquisadora sempre se pautou na inclusão da diversidade étnico-racial no ensino. Antes mesmo da implementação da Lei 10.639/2003, que tornou obrigatório o ensino de História da África e cultura afro-brasileira nas escolas, Cíntia já buscava inserir esses temas na formação de futuros professores.

No entanto, a pesquisadora reconhece que, mesmo dentro da academia, ainda há resistência à valorização de referências negras.

“Alguns programas de pós-graduação questionam pesquisas fundamentadas apenas em autores afrocentrados, como se o conhecimento negro fosse insuficiente ou inferior. A academia ainda reflete a lógica de um conhecimento hegemônico, e precisamos romper com isso”, destaca. 

‘Não basta apenas representatividade’

Cíntia Diallo
Professora Cíntia Diallo (Divulgação, UEMS)

Mesmo marginalizadas, as mulheres negras sempre estiveram presentes nas pesquisas científicas. Considerada uma das mentes mais brilhantes da corrida espacial, Dorothy Vaughan revolucionou o meio científico ao introduzir os computadores nos cálculos de rota dos projetos da NASA. Em uma época onde o racismo era explícito nos Estados Unidos, ela desafiou barreiras sociais para obter reconhecimento. No entanto, a marginalização de autoras fundamentais no pensamento feminista negro, como Lélia Gonzalez, Bell Hooks e Conceição Evaristo, ainda dificulta a construção de uma produção científica verdadeiramente plural e inclusiva.

Nesse contexto, Cíntia Diallo defende que a presença de mulheres negras em espaços de liderança não deve se limitar à representatividade. Para ela, é fundamental garantir uma ocupação plena e efetiva desses espaços.

“Ser a única mulher negra em um cargo de liderança não pode ser suficiente. A ideia de que uma única pessoa negra representa toda uma população é, também, uma expressão do racismo que nos desumaniza. Como se eu estivesse ali apenas para cumprir uma função simbólica, e não pelo meu mérito e competência”, pontua.

Para Cintia Diallo, a solução não está apenas na inclusão pontual de indivíduos, mas na construção de uma estrutura acadêmica verdadeiramente diversa e antirracista. 

“Uma representatividade negra isolada não basta. Precisamos de espaços de poder e decisão distribuídos com equidade, entre negros, brancos e indígenas. Essa é uma das estratégias para vencer a desigualdade racial”, conclui.

Ações de fomento trazem novas perspectivas de futuro

Mulhres acabam eclipsadas por homens com mesma qualificação (ilustração: Madu Livramento, Midiamax)

Apesar dessas barreiras, projetos como Mulheres, Ciência e Carreira, coordenado pela professora Alessandra Paim Berti na UEMS, buscam transformar essa realidade. Vinculado ao CNPq, o projeto visa mapear a participação feminina na pesquisa e em cargos de gestão, além de estimular meninas de escolas públicas periféricas a ingressarem nas áreas de Engenharia, Exatas e Computação. 

“Precisamos pensar no que impede as mulheres de avançar na ciência. Se maternidade e casamento são obstáculos, por exemplo, então devemos criar estratégias para que essas mulheres possam seguir na carreira”, ressalta Cíntia.

Outro exemplo prático é o edital “Mulheres na Ciência Sul-Mato-Grossense”, lançado em 2022 pela Fundect. Desde então, o edital destinou R$ 4,8 milhões em recursos para mais de 60 projetos liderados por pesquisadoras mulheres com o intuito de amparar projetos de pesquisa e inovação que contribuam significativamente para o desenvolvimento científico-tecnológico regional.

O programa surgiu após um levantamento que identificou um cenário de desigualdade na distribuição de bolsas do CNPq em Mato Grosso do Sul, onde apenas 32% das Bolsas de Produtividade em Pesquisa (PQ) e Produtividade em Desenvolvimento Tecnológico e Extensão Inovadora (DTI) destinavam-se a mulheres.

Além disso, entre os grupos cadastrados no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e certificados por instituições de Mato Grosso do Sul, apenas 45% eram liderados por mulheres.

No ano em que mulheres ocuparam espaços de poder, violência se sobrepôs a avanços em MS.

Imagem Destaque: Mulheres na ciência (Ilustração – Giovana Gabrielle, Jornal Midiamax)

Fonte: Lethycia Anjos / Midiamax

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